
16
dez/11
A hora do espanto ©

Não sei se com o raro leitor é assim, mas eu me espanto com um monte de coisas. Me espanto de freqüentar os subúrbios soberbos da escrita com tanta assiduidade. Me espanto de ter virado blogueiro. Me espanto de estar chegando à beira do meio século. Me espanto de olhar para o percurso que o meu caminhar já desenhou. Me espanto de continuar rindo muito além das minhas posses. Me espanto com o tamanho da minha ignorância. Me espanto com a arquitetura do arco-íris. Me espanto com o céu de Brasília. Me espanto quando anoitece. Me espanto quando desanoitece. Me espanto com as trapaças da sorte. Me espanto de ser um homenino. Me espanto de nunca perder as feições cândidas. Me espanto com o tanto que trabalho – eu que faço tudo pra não fazer nada. Me espanto com a “insanidade militar das horas” (Marcos Bagno). Me espanto com a beleza. Me espanto de ir em frente, desbravando a própria finitude. Me espanto com a vida. Me espanto de estar vivo – e cheio de graça. Me espanto com quem não se espanta. Me espanto de já ser sexta-feira. Me espanto com o que nem sei. Convenhamos: é muito espanto para uma pessoa só. Sou um coletivo de espantos. Estou espantado de tanto espanto. É tanto espanto que talvez seja bom convocar um espantalho – que sou eu mesmo.
© Nota de canapé: Filme americano de sucesso em sua edição original dos anos 80.
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