Óculos ©
Categoria: Música

 

Assisti há algum tempo uma cinebiografia do Padre Vieira pelo grande cineasta português Manoel de Oliveira. A longa jornada de Vieira impressiona tanto quanto a quantidade e qualidade dos seus escritos (sermões e cartas). Numa certa altura do filme, Vieira se queixa (ele se queixava de múltiplos achaques) de estar precisando de óculos. Junta à queixa um agradecimento: o de ter podido dispensá-los até àquela idade (66 anos). Não vou me queixar, embora a reclamação (com bom humor, claro!) seja uma de minhas distrações favoritas. Sinto, porém, que estou precisando de óculos. Décadas de leitura, oito horas diárias à frente de uma tela há não sei quantos anos, os 48 anos de idade, e uma gafe recente e imperdoável, tudo isso somado leva à óbvia conclusão: devo estar com o que chamam de vista cansada ou, tecnicamente (bem mais chique!), presbiopia. A gafe – que só não foi maior porque tive o sábio escrúpulo de pingar um humilde “acho!” ao fazer o pedido – foi a seguinte: estava à procura de um lançamento do Edu Lobo. Com o meu jeito apressado, agora agravado, ao que parece, pela presbiopia, li que o CD se chamava Tantos mares. Foi esse o título que informei à atendente da Livraria Cultura (tendo o cuidado, repito, de acrescentar um “acho!”), que nada encontrou no sistema. Ao pesquisar pelo nome do artista, eis que se desfaz o equívoco monumental. O nome do CD é Tantas marés. Foi a gota d’água. Um equívoco dessa dimensão pode acabar com qualquer reputação. Tá decidido: vou procurar urgente (ressalva: um urgente à minha maneira. Quem sabe aos 66 anos?) um oftalmologista.

 

© Nota de canapé: Primeiro do sucesso dos Paralamas.


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