
03
set/11
Escrita bordadeira ©
É assim: o lápis é a agulha, o papel é o pano, o alfabeto é a linha – eis o de que precisa um tecelão para puxar a vida para dentro das palavras, desde que devote uma atenção absoluta para o risco do bordado que a vida de todos nós, distraída de si mesma, desenha. O tecelão só pode contar com os traços que a vida deixa. Se é certo que a vida que se consegue puxar para dentro das palavras é sempre muito menos do que a vida é, também é certo que o essencial de uma vida se conta em poucos traços. O rosto de uma vida pode ser bordado com poucos fios. Depois do bordado pronto, alguém que olhe para o pedaço de vida revelado pela trama dos fios poderá se surpreender: “Esta vida é minha!” É que os fios da vida têm a marca da repetição. No entanto, que rica trama a combinação desses fios pode revelar! Em todo caso, não se pode esquecer que uma coisa é o risco do bordado, outra coisa é o bordado da vida propriamente dito. Este se faz ponto a ponto, linha a linha, com vagar, paciência, humildade, espanto, dor, alegria – até o último fio.
Gosto de me ver como um humilde tecelão manejando o fio das palavras em busca de um bordado bonito de se ler. Será que tenho conseguido?
© Nota de canapé: Belíssima crônica da escritora Alexandra Rodrigues, publicada no livro Minha avó botou um ovo, livro que é um ovo cheio de outras belas surpresas textuais urdidas com delicado lavor.
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