
04
ago/11
Um náufrago que ri ©
Machado de Assis disse do seu personagem Quincas Borba: “É um daqueles náufragos da existência”. Não teria o direito de dizer de mim que sou um náufrago da existência, mas em alguma medida eu, naufrágil, me sinto à beira do naufrágio. E por razões bem prosaicas: pendências em série que me cercam por todos os lados. Ah! mas como sou hábil no ofício de escapar pelas frestas e frinchas, aparecendo na superfície dos dias sempre com a mais cândida das feições! Quem me olhe há de pensar que tenho a vida toda em ordem. Devo essa aparência às virtudes de camaleão às avessas: adapto as circunstâncias de modo a que não se altere a geografia da face – que mantenho sempre com um sorriso à espreita dos lábios. Não ponho de lado as vivas desimportâncias que regem nossas vidas, com a condição de que elas fiquem no lugar que lhes cabe – o da irrelevância. Quero acreditar que a desordem externa que me cerca tenha como contrapartida uma ordem interior. Vejo algum sentido nisso: minha mãe sente absoluta necessidade de ordem exterior, o que talvez seja indício de alguma desordem íntima e isso me preocupa. Essa ordem interior que sinto possuir devo-a toda à leitura. Ave, leitura, bendita sois vós!
© Nota de canapé: Mais recente livro do escritor e jornalista Rogério Menezes.
(2)


- ▶2014 (111)
- ▶2013 (126)
- ▶2012 (131)
- ▶2011 (118)
- ▶2010 (15)


-
Alessandro Martins
Alexandre Pilati
André de Leones
Angela Delgado
Antônio Cícero
Bibliorodas
Cinthia Kriemler
Conceição Freitas
Docverdade
Eliane Brum
Escritablog
Fabrício Carpinejar
Fernanda Duarte
Geraldo Lima
Germina Literatura
Helcio Maia
José Castello
José Rezende Jr.
Luci Afonso
Maria José Silveira
Mariel Reis
Monica Pinheiro
Paulinho Assunção
Paulo Neves
Paulo Paniago
Rinaldo de Fernandes
Sérgio Rodrigues
Diogo
5 de agosto de 2011Revelador o seu texto, que é sempre elegante! “Quem me olhe há de pensar que tenho a vida toda em ordem.” Não, não tem, mas tem um íntimo tão forte, tão ordenado e tão sábio que faz a desordem exterior ser muito pequena pra você.
Tarlei
5 de agosto de 2011Diogo,
que comentário generoso! Muito obrigado! A humildade, no entanto, me obriga a recusar sua generosidade. Sinto em mim uma força, sim. Sabedoria? Só para admitir que nada sei. O que sei é que “viver é especializar-se no erro” (Maria Esther Maciel). Cumpro a sina.
Abs,
Tarlei