
17
jul/11
Com os meus olhos de cão ©
Sou alguém cercado de dúvidas por todos os lados. As dúvidas são minha bússola – daí que eu me encontre quase sempre perdido… A sorte é que no mar de tantas dúvidas boiam algumas pequenas certezas. Com toda a humildade que cabe no que vai dito, sinto em mim uma alma de cronista. Se me perguntassem “O que você quer ser quando crescer?”, eu responderia: “Criança!”. E se desconsiderassem a criancice da resposta, eu corrigiria (mas nem tanto!): “Cronista!”. Essa certeza íntima que carrego com o cuidado de quem cultiva uma flor no asfalto ganhou o reforço de umas palavras certeiras do crítico José Castello, publicadas há mais de ano na sua coluna de O Globo. Recortei algumas delas e divido com o raro teleitor. Eis: “O bom cronista despreza os grandes temas e prefere as migalhas oferecidas pelo cotidiano. Que outra coisa praticam os cronistas, senão a arte de liberar o mundo das amarras da arrogância? O que é a crônica – gênero do Eu e da confissão, mas também do mundo e da invenção – senão um artifício que nos leva a dar rasantes sobre o mundo, não como quem o agride e domina, mas como alguém que o acaricia? Mesmo sendo o gênero do Eu, a crônica não é o lugar da exibição e do triunfo. Falhar: eis tudo o que um cronista deve saber. A crônica é o gênero da delicadeza e do fracasso. Cronistas são homens que aprendem a olhar. A crônica é uma viagem prazerosa e vadia pelo rés-do-chão. Viagem rasteira e serena, sem preparativos e sem agendas.”
A crônica é tida como um gênero vira-lata. A que outro ofício pode se dedicar alguém que tem o verbo “latir” no próprio nome? Sinto um enorme prazer em, com os meus olhos de cão, farejar tudo o que tenha cheiro de vida. Sou isto: um vira- letras. Muito prazer!
© Nota de canapé: Livro de prosa da fabulosa Hilda Hilst (1930 / 2004).
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Alexandra
17 de julho de 2011Crônica fantástica!
E que convidado incrível, esse José Castello!
PS – A propósito, como se adota um vira-letras?
Tarlei
19 de julho de 2011Minha querida Alexandra,
diz-se que o cão é o melhor amigo do homem. Eu digo que o melhor amigo de um vira-letras é o leitor. Ter você como leitora, eu que comecei e continuo sendo seu leitor, é um privilégio. E por tal privilégio me sinto mais que adotado.
Obrigado!
Abs,
Tarlei