Flor do cerrado ©
Categoria: Música



 

(O texto que segue foi escrito no dia dos cinquenta anos de Brasília, num momento em que o blog estava nasce-não nasce. O blog deu as caras pouquíssimo tempo depois. Hoje Brasília faz cinquenta e um anos, mas é a mesma cinquentona de um ano atrás.)

Hoje o assunto é a flor do cerrado que faz cinquent’anos. Quando eu cheguei por aqui, encontrei Brasília na aurora dos quarenta. Hoje, cinquentona, é ainda (e sempre) um avião. Ave, Brasília, cheia de graça, bendito o dia em que pousei numa de tuas asas! Daqui só vôo quando o tempo, esse Deus insubornável, decretar que é hora de bater as asas rumo ao derradeiro pouso. Bendito quem te sonhou; bendito quem disse sim ao sonho; benditos os dois gênios que deram traços geniais ao sonho; benditos todos os que te escreveram em concreto. E bendito o teu céu – a maior de tuas catedrais – que te coroa da aurora ao poente. Brasília tem um quê de esfinge, mas é facilmente decifrável. Noutras cidades há esquinas, avenidas, bairros – isso que pronto dá orientação a uma cidade. Aqui temos tesourinhas, (super)quadras, blocos e outras coordenadas geométricas à primeira vista indecifráveis. Basta um breve convívio e a esfinge se mostra nítida e precisa na sua lógica cristalina, sem deixar de guardar em si mistérios outros. Uma cidade feita de sonho, eixo e asas nasceu destinada a voar sem tirar os pés do chão, proeza só possível no âmbito dos sonhos – totalmente possível para ela que nasceu de um sonho. Brasília pousou num altiplano das terras goianas e nele aeroplana monumental. Brasília nasceu decidida a ficar de frente pro Brasil e de costas para o mar. Brasília conseguiu a façanha de pôr num quadradinho o Brasil inteiro – aqui tem “gente de toda cor, tem raça de toda fé”. Em Brasília me sinto mais perto do Brasil. E pensar que Brasília nunca foi um plano meu! Agora sou eu que não saio do plano dela. Quem entende a escrita do destino?

Para Brasília, todo o afeto que se encerra no meu peito.

Ave, Brasília, cheia de graça!

 

© Nota de canapé: Uma canção de Caetano Veloso – que ainda não ouvi.


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