
07
abr/11
Reengenharia ©
Quem viveu até os 18 anos numa cidadezinha de nem dez mil habitantes jamais se integrará (ou se entregará) ao ritmo alucinante das megacidades. Me viro bem: faço o que preciso fazer, vou aonde preciso ir, suporto os decibéis que tenho de suportar, vou levando a loucura do jeito que é possível levar. Trago dentro de mim reservas de calma, de simplicidade, de vida interiorana e lenta que metrópole alguma vai conseguir esgotar – espero. Sinto falta de simplicidade. Tudo é quase sempre muito complicado. A inteligência humana, de tanto engenhar, foi complicando tudo, e mais engenho foi sendo necessário para dar conta da complicação, numa ciranda que parece sem fim. A tal ponto que o poeta do traste, do cisco, do desprezado, o prezadíssimo Manoel de Barros, lapidou estes versos no Livro das Ignorãças: “Não sei mais calcular a cor das horas. / As coisas me ampliaram para menos.” Minha aposta é na reengenharia – reengenharia de tudo. Nesse tudo, a principal é a reengenharia do tempo – tempo do trabalho, claro! Se a gente admitir que está tudo ligado – e está –, a reengenharia tem que ter, de nascença, uma vocação holística. E só acredito numa reengenharia que postule o resgate do simples. Como? Há de haver um como. Não quero acreditar que a inteligência humana, tendo ido tão longe, não consiga fazer o caminho reverso. Sinto – com toda falta de dados que há nesse sentir – que esse é o caminho. É o que o planeta pede. É o que a mãe natureza manda. Não nos esqueçamos: a mãe natureza, embora generosa com seus filhos, não hesitará em eliminar uma linhagem deles para o bem maior dos seus inumeráveis outros filhos.
© Nota de canapé: Canção do Itamar Assumpção que está no CD Pretobrás. A obra do Itamar foi toda relançada em uma Caixa Preta – genial! – e está à venda aqui.
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Magno
7 de abril de 2011Fantástica defesa da simplicidade! Já te disse e repito: invejo esse seu jeito de falar tão profundamente com tanta economia de palavras (inveja boa, claro). E sempre citando alguém, o que me impressiona mais ainda (onde cabe tanta informação valiosa, hein!?)…
O texto me lembrou os créditos finais da fantástica animação Wall-e (para ver, só ir aqui: http://www.youtube.com/watch?v=UFpULFu7bwU ). Começa no ápice do desenvolvimento tecnológico, mas com imagens que remetem a um estilo rudimentar; e termina com uma sociedade muito mais simples pintada como as mais belas obras de arte. Metáfora visual para o que defende aqui. E que para o bem da vida devia ser defendido por todos…
Tarlei
7 de abril de 2011Magno,
Que comentário generoso! Muito obrigado!
A economia de palavras que você elogia em mim é, antes, uma limitação — de tempo, de espaço e de conhecimento do assunto. Sou pássaro de vôo curto.
Quanto às citações, elas acontecem ao acaso, espontâneas. Posso dizer que elas vêm até mim convocadas pela memória que se deixa impregnar com muita força por aquilo que lê e ama. É só isso.
Abraços,
Tarlei