
23
ago/14
Bonitinha, mas ordinária ©

Li em algum lugar que o bom texto deve ser como a minissaia: curto, justo e provocante. Sou curto de imaginação e, em conseqüência, meu texto é curto. Justo? Acho que não. Adoro cometer uma leviandade inocente. Provocante? Se algum texto meu conseguir pôr um riso nos lábios ou uma nuvem nos olhos de algum leitor, o que mais eu quereria provocar? O que sei mesmo é que minha escrita pode até ser bonitinha, mas é pra lá de ordinária. É escrita sem pedigree, vira-lata a mais não poder. É escrita que nasce do chão do cotidiano – nele está o osso a que me agarro. É escrita que vive de sobras – as sobras da vida que vou recolhendo pelo caminho. Talvez o raro leitor sinta um tom de desapreço na forma de avaliar o que me sai da lavra. E se engana. Tenho o maior apreço pelo miúdo, pelo que não tem gala nenhuma. Minha intenção é apenas delimitar o chão em que me movo, o chão que me apraz lavrar. Não se trata de querer menos, querer o menor. Trata-se, isto sim, de reconhecer o espaço em que melhor me movo, de fixar o meu tamanho. Não se pode dar mais do que se tem. O meu material vem do ordinário da vida – da minha vida e da vida ao meu redor. A boniteza que sempre enxergo nesse material vem do meu olhar. Nunca deixo de estar disponível para o encantamento. Há encanto em todo canto. É só não deixar o olhar perder o poder de se encantar. Quer saber? Minha escrita não quer ser justa, provocante. Quer ser apenas – vá lá! – bonitinha. E ordinária. Mais não quero. Nem posso.
© Nota de canapé: Peça do extraordinário Nelson Rodrigues (1923 -1980).
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23 de agosto de 2014Que belezura, Tarlei!!! ” É só não deixar o olhar perder o poder de se encantar” – você é imenso de humanidade, beleza, “encanto em todo canto” – Amei!!! Loviú, menino querido!!! Bjos,
Tarlei
25 de agosto de 2014Obrigado, Mari! Você é imensa de generosidade, carinho… Admiro demais esse seu despetalar-se sem reservas na direção de quem gosta. Obrigado, de novo e sempre!!
Bjs,
Tarlei