Ponto de interrogação ©

Categoria: Música

Tags: gonzaguinha

Não, não foi dessa vez.

Para quem nada entende de futebol, um imenso ponto de interrogação na cara: o que estava acontecendo? Se a nossa seleção não vinha dando show de bola, pelo menos tinha saído vitoriosa de quatro embates e contabilizado um empate. Nada prenunciava a derrota fragorosa, ululante, que começou com um gol aos onze minutos. Bola pra frente. A gente corre atrás de dois gols e pronto. Em vez, a Alemanha faz mais quatro num intervalo de seis minutos. O que se via era uma torcida boquiaberta, ensimesmuda, não acreditando no que via. Onde a falha tão superlativa? Que erro tático tão flagrante não pôde ser corrigido a tempo? Porque, resumindo a partida ao seu segundo tempo, o placar foi de 2 x 1. É o que basta para concluir que o técnico errou feio e, mais grave, persistiu no erro um tempo inteiro da partida. Imperdoável. E assim, diante da muralha alemã, vimos o sonho do hexa tombar, gol a gol, restando-nos um reles gol de misericórdia, incomemorado. Ao torcedor só restava a esperança de um milagre. Era esperar que a “natural catimba” dos nossos craques, quase todos com carreira internacional, aplicassem uma “firula exata” nos nossos adversários. Era esperar que, avançando na “vaga geometria” do gramado, conseguíssemos chutes a gol “com precisão de flecha e folha seca”. Era esperar “a finta” – que não veio. Era esperar “o senhor chapéu, para delírio das gerais” – que também não veio. Era esperar a “ginga” de um “homem-gol” que viesse “rasgando o chão e costurando a linha”. Era esperar que, da “paralela do impossível”, viessem os gols que nos levariam adiante no sonho do hexa – do qual nos despedimos banhados em lágrimas.

Não, não foi dessa vez.

PSiu: as expressões aspeadas vêm de uma letra lindíssima do nosso craque Chico Buarque para a canção O futebol.

© Nota de canapé: Canção do Gonzaguinha.