Labirinto ©
Categoria: Televisão

Nascer é entrar no labirinto que nos acompanhará até o fim. Falo do labirinto de nós mesmos, o que habita em nós, e do labirinto do mundo, que temos de habitar. Transitar por esses labirintos é tarefa cada vez mais complicada. A dinâmica de um labirinto é a crescente complexidade. Tudo nos ultrapassa. É pelo caos que temos de nos orientar. A sorte é que não temos consciência do que é viver fora do labirinto. O labirinto é constitutivo do humano e do mundo que os humanos vêm deixando atrás de si. Por dentro, um labirinto de sentimentos, de pulsões, de incertezas etc. Por fora, o labirinto de outros humanos, o labirinto das leis, da tecnologia, das ciências, das megacidades etc. Não temos saída. O jeito é conviver com o labirinto de dentro e de fora. Não se trata de compreender o labirinto, tarefa que nos ultrapassa, mas de, inescapavelmente, conviver com ele. Considero que a leitura (falo de uma leitura total) seja o caminho por excelência para se navegar no labirinto. Num labirinto, tudo é texto à espera de leitura, de decifração. Há uma espécie que se dedica especialmente a fixar no espelho da palavra escrita tudo o que consegue recolher do labirinto que a rodeia e permeia. São os escritores, esses frágeis construtores de fragilidades. Eles é que tentam pôr um pouco de ordem no caos que nos constitui. E também um pouco de desordem nas certezas que insistimos em carregar. A palavra escrita, para mim, é a mais poderosa das bússolas. E dela não abro mão para me orientar no labirinto do caos. Com ela me perco e me acho. Me dano e me salvo. Se é fatal nos perdermos no labirinto, que ao menos a gente não perca de vista o farol da palavra escrita. É o que garante, desconfio, que a gente se sinta um pouquinho menos perdido.

© Nota de canapé: Minissérie de Gilberto Braga exibida em fins dos anos 90.


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