
20
fev/14
Cândido ©
Tá certo que ostento feições cândidas quase o tempo todo. E sou o tipo que procura ver o lado bom de tudo. Só não pensava ser visto como otimista, com certo ar de Pollyanna. Começou com a querida Almira, dona de uma banca de revistas que freqüento. Um belo dia ela disse que precisava me contar um acontecido que era a minha cara. O acontecido tinha a ver com um certo jeito Pollyanna de alguém que a distinguiu com uma gentileza inesperada. Passou. Outro dia, comentando com um primo sobre uma possível tendência Pollyanna em mim, e na qual eu não acreditava, ele revelou que nunca tinha se dado conta disso, mas, observando bem, eu era o tipo que fazia o jogo do contente. Tenho de confessar que um pouco é verdade. Se faz escuro, eu sempre dou um jeito de enxergar alguma fresta de luz no meio da escuridão. Só acho que otimismo tem limite. Tenho funda consciência do quanto viver é complicado. A questão é que não faço alarde da coisa. Isso é coisa de mim para comigo. Agora veja: não me bastasse ser o equilíbrio em pessoa, eis que me descubro o otimismo em pessoa. Admito que sou otimista, mas um otimista desconfiado, atento, que não se deixa iludir diante dos apelos sedutores do auto-engano. Isso, não. No mais, queira desculpar os rompantes de candura deste escrevente cândido a contragosto.
© Nota de canapé: Livro do francês Voltaire.
(0)


- ▶2014 (111)
- ▶2013 (126)
- ▶2012 (131)
- ▶2011 (118)
- ▶2010 (15)


-
Alessandro Martins
Alexandre Pilati
André de Leones
Angela Delgado
Antônio Cícero
Bibliorodas
Cinthia Kriemler
Conceição Freitas
Docverdade
Eliane Brum
Escritablog
Fabrício Carpinejar
Fernanda Duarte
Geraldo Lima
Germina Literatura
Helcio Maia
José Castello
José Rezende Jr.
Luci Afonso
Maria José Silveira
Mariel Reis
Monica Pinheiro
Paulinho Assunção
Paulo Neves
Paulo Paniago
Rinaldo de Fernandes
Sérgio Rodrigues