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dez/13
Junto e misturado ©

Deu vontade de percorrer certo trecho da trilha da memória. Deu vontade de recordar a infância e um tempo em que se vivia todo mundo junto e misturado. Por todo mundo entenda-se primos e vizinhos. Eu disse certa vez que as relações de vizinhança eram de uma deliciosa proximidade. Como isso era verdade! E se a vizinhança era com um parente, a proximidade era maior ainda. A conseqüência da excessiva proximidade eram as tantas desavenças. Era um tal de ficar de mal e de bem! Vamos aos primos. Os mais próximos eram os da tia Joana – oito ao todo. E só com esses já dava para fazer muita confusão. E fazíamos. Eu freqüentava também outros primos que não eram exatamente vizinhos, mas próximos – vantagem de cidade pequena. Eram os primos da tia Dalva – seis no total. Eu tinha o costume de passar domingos inteiros na casa deles. Almoçava, brincava, via TV, lia revistas, conferia as tarefas escolares deles etc. Esses primos mudavam muito de casa e eu os acompanhava para onde fossem. Era um atrativo a mais para visitá-los. Havia também os vizinhos. Da casa de baixo, os filhos da dona Júlia. Viviam lá em casa. E veja a ironia: um deles, chamado Deusinho, era o diabo de tão impossível. Certa vez, num acesso de fúria, ele furou nosso sofá inteirinho com varetas de bambu. O sofá nunca foi consertado e com o tempo rasgou-se todo. Da casa de cima, havia os seis filhos da Devaci (assim a chamávamos embora o correto fosse Adelvaci) e os não sei quantos da dona Olinda. A vizinhança quase toda, entre adultos e crianças, ia assistir televisão na casa da Devaci, de segunda a sábado. Era certo que incomodávamos muito. Igualmente certo era que uma platéia numerosa tornava mais divertido ou emocionante o que quer que se visse na TV. Era assim – e era bom. A platéia chegava para a novela das seis e só ia embora depois da novela das oito. Afora a TV, tinha as brincadeiras na rua mesmo: bete, queimada, maré (amarelinha), pique, esconde-esconde, pula-corda etc. Muita criança, muita brincadeira – e muita briga. Pedradas, beliscões, tabefes, puxões de cabelo, cascudos, faziam parte do repertório. Tudo isso dorme na minha memória e vez em quando a saudade – como agora – trata de acordar o que está guardado no escaninho da infância.
© Nota de canapé: Programa de TV.
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16 de dezembro de 2013Lembranças bonitas. Legal também eram os nomes: Adelvaci, Dalva, Olinda, Joana…. ninguém mais dá estes nomes aos filhos. Uma pena!!