
23
nov/13
Chega de saudade ©
Tendo notado certa nostalgia em meus escritos, uma amiga decretou: “Nada de nostalgia!”. Então tá! No meu caso, passeio pelo meu estoque de passado apenas como um modo de confirmar o meu presente, porque é certo que “Há um passado no meu presente / Um sol bem quente lá no meu quintal”. O passado ilumina o meu presente. Tenho saudades, sim, mas não sou saudosista. Tanto que o comando de “seguir em frente” é uma constante no meu jeito de levar a vida. Viver é navegar. No entanto, não podemos perder de vista o nosso cais, o nosso ancoradouro. O passado é o nosso cais. Dele partimos. Para ele voltamos. Só não vale ficar preso a ele. Nem deixar que ele nos prenda. Para Otto Lara Resende, o saudosismo é uma espécie de ressentimento que nos leva a exaltar o passado e hostilizar o presente. Também não vale o sentimento contrário de relegar o passado e entronizar o presente. E o passado só existe presentificado, ou seja, atualizado pelo que somos no presente. Para assinalar o quanto o passado está presente, Mario Quintana torneou esta bela frase: “O passado não conhece o seu lugar: está sempre presente”. Só tenho presente por causa do passado – passe a ululância da obviedade. Deve ser por isso que o angolano José Eduardo Agualusa deu a um de seus livros o título O vendedor de passados. Tenho um generoso estoque de passado. Posso gastá-lo à vontade – mas sem nostalgia. E ecoando o decreto lá do início, é hora de repetir: chega de saudade! Então tá!
© Nota de canapé: A canção-totem da Bossa Nova. Depois dela, dizem, nada foi como antes.
(1)


- ▶2014 (111)
- ▶2013 (126)
- ▶2012 (131)
- ▶2011 (118)
- ▶2010 (15)


-
Alessandro Martins
Alexandre Pilati
André de Leones
Angela Delgado
Antônio Cícero
Bibliorodas
Cinthia Kriemler
Conceição Freitas
Docverdade
Eliane Brum
Escritablog
Fabrício Carpinejar
Fernanda Duarte
Geraldo Lima
Germina Literatura
Helcio Maia
José Castello
José Rezende Jr.
Luci Afonso
Maria José Silveira
Mariel Reis
Monica Pinheiro
Paulinho Assunção
Paulo Neves
Paulo Paniago
Rinaldo de Fernandes
Sérgio Rodrigues
Angela Delgado
24 de novembro de 2013♪… a realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza, é só tristeza… ♪
Adorei seu post e fiquei com vontade de ler o livro “O Vendedor de passados”.
Um ótimo dia pra você!