
13
nov/13
Xerazade ©
Xerazade é a lendária narradora das histórias d’As mil e uma noites. Mais que narradora, Xerazade era uma sedutora. E, para ela, seduzir era uma questão de sobrevivência. Ela seduzia contando histórias – histórias sem fim. Só aguçando a curiosidade do sultão ela poderia garantir que não seria decapitada ao nascer do dia, destino de todas as outras esposas que a precederam. Assim ela fez por mil e uma noites. A estratégia era interromper a história num ponto crucial, prometendo retomá-la na noite seguinte. Refém da curiosidade, o sultão não tinha outro recurso senão manter Xerazade viva. Dito isto, é hora de dizer que tenho uma amiga que é legítima herdeira de Xerazade, não porque precise fiar-se na palavra para prorrogar a vida, mas tão só pelo gosto de desfiar conversas sem fim. Se a vida da minha amiga dependesse do poder de esticar uma conversa, um assunto, ela seria imortal. Morando cada um numa cidade, nossas conversas são por escrito. E assim, de conversa em conversa, de escrito em escrito, estamos à beira das mil e uma mensagens. Não fosse esse dom de Xerazade da minha amiga, jamais teríamos ido tão longe. Mesmo quando ela se alia ao quase silêncio por escrito, nenhum silêncio é bastante para abalar-lhe a reputação de Xerazade absoluta, sempre curiosa das peripécias humanas, incansável no ofício de puxar o fio de uma conversa. E ela vai continuar assim, sem mim, sem a minha presença por escrito, quando, enfim, chegarmos à milésima primeira mensagem. A Xerazade d’As mil e uma noites não nasceu Xerazade: fez-se Xerazade. Minha amiga, até onde posso ler, é uma Xerazade nata. E o que é da gente, ninguém tira. Sorte minha que venho me beneficiando e me divertindo, por quase mil e uma mensagens, com a Xerazade incomparável que minha amiga é. Quem é minha amiga Xerazade? Não preciso fazer mistério. Ela já foi retratada aqui. Espie à vontade.
© Nota de canapé: Livro de Hélio Pólvora.
(2)


- ▶2014 (111)
- ▶2013 (126)
- ▶2012 (131)
- ▶2011 (118)
- ▶2010 (15)


-
Alessandro Martins
Alexandre Pilati
André de Leones
Angela Delgado
Antônio Cícero
Bibliorodas
Cinthia Kriemler
Conceição Freitas
Docverdade
Eliane Brum
Escritablog
Fabrício Carpinejar
Fernanda Duarte
Geraldo Lima
Germina Literatura
Helcio Maia
José Castello
José Rezende Jr.
Luci Afonso
Maria José Silveira
Mariel Reis
Monica Pinheiro
Paulinho Assunção
Paulo Neves
Paulo Paniago
Rinaldo de Fernandes
Sérgio Rodrigues
Angela Delgado
13 de novembro de 2013Essa Soninha é, com certeza, muitíssimo melhor do que a outra Xerazade, de cujas histórias não gostei. E você escreveu dois ótimos textos sobre sua amiga.
Tarlei
13 de novembro de 2013Angela,
só conheço a fama da outra Xerazade, cujas histórias não li. A Soninha é mesmo danada. Não me espanta que ela supere sua famosa antecessora na arte da conversa.
Abs,
Tarlei