
07
set/13
Não há cabeça ©
Não vou escrever sobre a falta de assunto. Ou sobre a falta de disposição para escolher um assunto. Não vou escrever sobre a correria da vida, sobre as urgências que tenho de desadministrar. Não sei o que vou fazer para encher as sagradas vinte linhas, ou quase, de texto. Não sei de onde tiro forças para alimentar minha obsessão. Não sei pra quê escrever se, escrevendo ou não, tudo continuará tal e qual. Não sei se, escrevendo, mudo alguma coisa em mim. Não tenho o que dizer e por isso escrevo tanto. Não sou de recuar diante do papel em branco. Não fujo da raia. Não deixo cair o rojão. Não discuto com o destino. Não perco o condão de ser feliz por nada. Não caio na cilada do consumismo. Não saio da rota da simplicidade. Não perco ocasião de curtir a preguiça. Não dou bola pra certas pendências que me acompanham com fidelidade canina. Não dou trela pro assédio da tecnologia. Não quero a linha reta. Não dispenso a curva generosa da compreensão. Não falo coisa com coisa. Não preciso de muito dinheiro, graças a Deus. Não ligo para importâncias. Não vivo sem as desimportâncias que me cercam. Não entendo o que quer esse texto. Não pretendo espichar mais esse texto. Não há cabeça pensante por trás desse texto. Não havendo mais o que dizer, por hoje, desfecho o ponto final nessas mal enjambradas linhas.
© Nota de canapé: Uma canção de Ângela Rô Rô.
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