Milagres ©
Categoria: Música

Num vôo Uberlândia/Brasília, observando os flocos de nuvens sobre os quais voávamos, me peguei espantado com o tanto de milagres que nos cercam. Foi uma pequena epifania em pleno vôo. Fiquei olhando aquele aglomerado de nuvens e reconhecendo ali a evidência de um milagre. Os puramente racionais dirão que é um fenômeno natural. Eu digo: é algo da ordem do sobrenatural. É o milagre da multiplicação da água. A própria água é um milagre. Desse ponto de vista, tudo roça o milagre: as galáxias, os planetas, o sol, a lua, os minerais, os bichos, as plantas, a célula, o átomo etc. Esses são os milagres dados. Isso tudo que é um milagre por si só ainda carrega o milagre adicional de uma silenciosa e invisível interação. É como diz o Guimarães Rosa: “Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo”. Voltando à água: é milagrosa a alquimia que faz a água evaporar-se, ficar suspensa no ar em forma de nuvens de algodão, condensar-se de novo em forma de gotas d’água e cair sobre a terra em forma de chuva – chuva é um coletivo de gotas d’água. De novo dirão os puramente racionais: é só um fenômeno atmosférico. Vá lá que seja, mas nem por isso menos milagroso. A esses milagres ditos naturais seguem-se os espantosos milagres da inteligência humana. E para mim, quer se trate de um utensílio de cozinha ou de uma nave espacial, ambos se equivalem em termos de milagre de invenção. Se olharmos bem, somos um milagre (o milagre da vida) cercados de milagres por todos os lados. O homem, essa espécie arrogante, pode até duvidar da existência de um Deus, mas não pode duvidar da existência de milagres. E nem se trata de acreditar em milagres. Eles estão todos aí, na nossa cara. Não vê-los como tais é que é um espanto.

© Nota de canapé: Parceria de Cazuza/Frejat.


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