A vizinha do lado ©
Categoria: Música

As relações de vizinhança estão cada vez mais rarefeitas. Há, até, quem se orgulhe disso. Eu, não. Por conta do meu temperamento discreto não sou muito de me aproximar de vizinhos. Isso diz mais do meu temperamento do que do meu desejo. E conheci um tempo em que as relações de vizinhança eram de uma deliciosa proximidade. Certamente foi esse tipo de proximidade, de mútua vigilância, que levou a grande Cora Coralina a propor que se criasse o dia do vizinho. Uma pena que a idéia não tenha ido adiante. Faço essa introdução para contar da relação com minha vizinha de porta, a estudante de medicina Cristiana, goiana feito eu. Tudo começou de forma bem prosaica. Mal nos conhecíamos e ela bateu na minha porta toda sem jeito. Entre mil desculpas, perguntou se eu tinha crédito no celular. Os créditos dela tinham acabado justo no meio do pedido de uma pizza. Ofereci o telefone fixo e dali nasceu uma relação de vizinhança alicerçada em pequenos favores. Apesar do temperamento arredio, sou um vizinho solícito e atento às necessidades de quem me rodeia. Dia desses eu saía do prédio quando vi a Cristiana chegando de viagem. Ela voltava das férias, trazida pela mãe. Intuí que trazia muita bagagem – e trazia. Ofereci-me de pronto para ajudar. Eram malas e malas. É o tipo de coisa que faço com a maior boa vontade. Ela contente de ser ajudada; eu contente de ter ajudado. Cristiana já é quase de casa. Meu quarto próprio já é quase uma extensão da casa dela. E gosto disso. Preciso dizer que tenho o costume de deixar a porta sempre aberta. Às vezes estou no computador e a Cristiana chega sem eu nem perceber, em geral para se abastecer de água do meu filtro – eu ofereci logo que o instalei. Além disso, há os pedidos ocasionais: gelo, açúcar, fita métrica e, por último, pinça. Nada disso me incomoda. Gosto de servir. E também já me socorri dela. Num sábado à noite eu estava com uma dorzinha de cabeça. Cismei que era problema de pressão. Bati na porta da Cristiana e perguntei se ela tinha aparelho de medir pressão. Ela tinha e mediu minha pressão com toda boa vontade. Disse que estava um pouco alterada, mas que não se tratava de uma crise hipertensiva. Prescreveu-me repouso dizendo que mais tarde faria nova medição. Assim ela fez, a pressão tinha se estabilizado e eu pude dormir despreocupado. É aquele velho ditado que, embora antigo, continua valendo: uma mão lava a outra. É só estarmos dispostos a estender a mão ao outro. Simples assim!

© Nota de canapé: Canção do Dorival Caymmi.


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    Edna Freitass
    26 de maio de 2013

    Muito querido Tarlei,
    Um VIVA aos vizinhos, nossos parentes mais próximos!
    Abraços literários.


    Tarlei
    27 de maio de 2013

    Querida Edna,
    sim, um VIVA a esses nossos parentes acidentais.
    Abs,
    Tarlei






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