A vida é bela ©
Categoria: Cinema

Toda viagem Brasília–Uberlândia costuma seguir os trilhos do esperado: o táxi, a rodoviária, o percurso, a parada (posto Ponte Alta), o lanche (uma pamonha assada), retomada da viagem, a chegada (duas da manhã), o táxi, a casa de minha mãe. É onde acaba a viagem que começa o que desejo contar. É tão pequeno o que tenho a contar que será preciso espichar as bordas do texto para que ele não fique curtinho demais. Falo do pequeno momento que sucede a minha chegada (depois do abraço na mãe, do banho, da comida esquentada pela mãe, da mãe voltar para a cama): é nesse momento breve que desfruto de um prazer sem preço. É o prazer egoísta e hedonista vindo da certeza de que, naquela hora, nada me perturbará. Entrego-me ao prazer da comida simples (arroz, feijão, carne de frango, molho de jiló, salada de tomate), ao prazer do silêncio, ao prazer de ouvir o motor da geladeira, de ouvir o som do garfo tocando o prato, de ouvir um galo cantando em algum quintal. Na noite escura estamos eu e o silêncio, aconchegados um ao outro como o filho no útero da mãe. A plenitude de prazer dura o tempo breve da refeição. Depois escovo os dentes, tomo um copo d’água, apago a luz e me deito à espera das ondas envolventes do sono. Naquele momento, tenho certeza de que sou o homem mais feliz do mundo. Uma felicidade que é puro despojamento, pura gratuidade. Antes de entrar no casulo do sono, um pensamento agradecido me visita: “A vida é bela!”. Depois que raia o dia, entro na rotina da casa: compras, queixas, providências etc. No entanto, nada me rouba aquela ilha de prazer dentro da noite silenciosa. Ilha só minha e que visito de tempos em tempos.

© Nota de canapé: Um filme do italiano Roberto Benigni em cuja inverossimilhança a gente embarca graças à criança que somos.


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