
28
fev/13
Brava gente brasileira ©
No andar em que trabalho, somos servidos por dois copeiros. E digo de saída que o trabalho de um copeiro não é fácil. Sendo copeiro de auditores, mais difícil ainda. Somos umas sessenta pessoas no andar. É preciso servir água para todo mundo (natural para uns, gelada para outros), café duas vezes ao dia (com açúcar para uns, com adoçante para outros, sem açúcar para alguns). Servir água e café é a parte final do trabalho. Antes é preciso recolher as garrafas d’água e os copos, lavar tudo, repor as garrafas com os copos limpos. Depois é partir para fazer o primeiro café, lavar todas as xícaras assim que servida a primeira rodada, e fazer o segundo café. Servir o café demanda várias voltas à copa para reabastecer o bule. Para os servidos não importa nada: querem sempre um sorriso no rosto do copeiro. E não há atraso, por menor que seja, que não seja motivo de alguma reclamação. Apesar do baixo salário, das condições de trabalho, das eventuais reclamações que lhes dirigimos, nunca vi da parte dos copeiros nenhum sinal de queixa.
Estamos rodeados de gente assim. É uma brava gente com quem temos muito a aprender. Como admiro esses heróis anônimos que não se deixam sucumbir diante do visgo grosso das circunstâncias! Estão na vida para o que vier, e como vier. São heróis da mesma estirpe de um vendedor de caldo de cana que todo dia estaciona sua tralha perto da escola de que sou vizinho. E quando digo tralha não leia aí a menor intenção pejorativa. É um jeito carinhoso e adequado para nomear tudo o que o vendedor estaciona: o Passat velhíssimo de cor não identificável, a cana, a máquina de moer cana, a fritadeira de pastel, a estufa para o pastel, o isopor com gelo, a barraca, as mesas e cadeiras – isso é o de que me lembro. Chega por volta das sete da manhã – o mesmo horário em que estou saindo para o trabalho – acompanhado do que penso seja um filho. Às sete da noite, quando regresso, pai e filho estão recolhendo a tralha. Eu penso: que horas descansam?
Quisera poder dar um abraço nessa brava gente que tanto admiro. Fiquem estas palavras na conta de um abraço!
© Nota de canapé: Livro de crônicas de Márcio Moreira Alves. É livro do qual posso dizer: não li (ainda) e (já) gostei.
(4)


- ▶2014 (111)
- ▶2013 (126)
- ▶2012 (131)
- ▶2011 (118)
- ▶2010 (15)


-
Alessandro Martins
Alexandre Pilati
André de Leones
Angela Delgado
Antônio Cícero
Bibliorodas
Cinthia Kriemler
Conceição Freitas
Docverdade
Eliane Brum
Escritablog
Fabrício Carpinejar
Fernanda Duarte
Geraldo Lima
Germina Literatura
Helcio Maia
José Castello
José Rezende Jr.
Luci Afonso
Maria José Silveira
Mariel Reis
Monica Pinheiro
Paulinho Assunção
Paulo Neves
Paulo Paniago
Rinaldo de Fernandes
Sérgio Rodrigues
Edna Freitass
28 de fevereiro de 2013Muito querido Tarlei,
Bravo trabalho de uma brava gente que tudo olha, vê. Ser flanêur é isso. Perceber os tesouros que nos rodeiam em nosso dia-a-dia. Até imaginamos toda aquela brava gente ali. Eles são servidos, servindo. Os bravos de lá, os bravos de cá. Somos bravos!
Tarlei
28 de fevereiro de 2013Querida Edna,
para viver, sonhar, amar, ser, é preciso muita bravura. Somos bravos!
Abs,
Tarlei
Angela Delgado
1 de março de 2013Eu também algum dia ainda vou te dar um abraço…
Tarlei
2 de março de 2013Querida Angela,
o abraço, pronto no coração, só aguarda a hora e vez de um encontro… Que, embora tardando, não há de faltar… E uma vez pronto no coração, o abraço já é abraço…
Abraçaço,
Tarlei