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jul/12
Tesselário ©
Como é que eu, um apaixonado pelas palavras, pude ficar tanto tempo sem conhecer a palavra “tesselário”? Ainda mais por se tratar de palavra que, num nível metafórico, tem tudo a ver com o que faço. O Aurélio ensina que tessela é uma peça de mosaico. A arte de juntar tesselas cabe ao tesselário, ou seja, ao mosaísta. É o que sou: um mosaísta de palavras. Meus escritos são feitos todos de “pedrinhas apanhadas no rio do cotidiano” (Eustáquio Gomes). O destino dos acontecimentos é passarem. Aí vem a palavra e livra alguns acontecimentos da voragem do esquecimento. A palavra tem o poder de guardar. No entanto, alguém precisa pôr o acontecido ao abrigo da palavra. Esse alguém são os escribas, seres escalenos que não se cansam de fazer sedimentar na superfície da palavra resíduos da vida que corre sem parar. Esse alguém sou eu, incansável no ofício de tesselário, sempre pronto a recolher “pedras – talhadas ou por talhar – para o monumento que não chegará a erguer-se do chão”.(1) “Tinha uma pedra no meio do caminho” (Drummond) – e eu tirei. Mais uma a compor o imenso mosaico que meu pouco engenho e nenhuma arte vem desenhando com o rigor do acaso.
(1) Barão de Teive, um semi-heterônimo de Fernando Pessoa. Modifiquei ligeiramente a citação.
© Nota de canapé: Excelente livro de microcontos do escritor brasiliense Geraldo Lima.
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22 de julho de 2012Bom dia, muito querido escriba!
Tarlei
22 de julho de 2012Muito bom dia, querida visitadora desse cantinho!
Abs,
Tarlei
Angela Delgado
12 de agosto de 2012E você tirou a pedra do caminho! Simples assim! E genial!
Vou parar de escrever para ter tempo de ler tantas maravilhas que me aguardam.
Tarlei
12 de agosto de 2012Ou, se não é possível tirar as pedras do meio do caminho, acredito ser possível encontrar um caminho no meio das pedras.
Abs,
Tarlei