Sétima arte ©
Categoria: Música

A arte que primeiro me fisgou foi a da música. Era a arte mais ao alcance, bastando ter um rádio. E quando falo música, estou falando em música com letra. A música foi senhora do meu gosto pela arte por muito tempo, até à entrada da literatura na minha vida. A literatura veio devagar, mas depressa ocupou a primazia do meu interesse por arte. Falo em primazia sem certeza. Acho mesmo que música e literatura estão lado a lado em importância na minha vida. Já o cinema – e para grande prejuízo meu – demorou muito a figurar entre as artes de que não abro mão. Ter conhecido duas amigas apaixonadas pela sétima arte tem tudo a ver com isso. E o cinema, sendo a sétima arte na ordem de sua fixação no panteão das artes, é a terceira na minha ordem de fruição. Como eu gosto de me achar no escurinho do cinema!! Não, não gosto de ver filme pela TV. No útero escuro de uma sala de cinema gestam-se emoções profundas, sensações únicas. E ainda tem o barato maior que é poder compartilhar essas sensações: não se ri sozinho, não se chora sozinho. A magia do compartilhamento faz a emoção ficar maior, muito maior. É pena que na cidade em que agora moro só haja a opção dos cinemas de shopping. É mais um motivo para eu, estando em Brasília por uns dias, reservar umas horas para sonhar no escurinho do cinema.

Falei antes não ter certeza de a literatura ter a primazia na ordem do meu gosto. Volto atrás. Eu sou um devoto da palavra. E a palavra está presente na música, no cinema – daí a possível razão do apelo dessas duas artes sobre mim. Na literatura, no entanto, a palavra é soberana. E a arte que vai mais fundo nas emoções humanas só tem a palavra como instrumento. Não é sensacional?

© Nota de canapé: Disco temático da cantora/compositora Fátima Guedes, todo ele dedicado à sétima arte.

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Sina ©
Categoria: Música
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Olhando agora pelo retrovisor da memória posso dizer que escrever é minha sina. Muito antes de virar leitor (e eu virei leitor demasiado tarde), eu já tinha um encantamento pela palavra, pelo que levava a assinatura da imaginação.  O primeiro texto de que me lembro foi encomendado por um primo. Era um discurso para ser lido durante a campanha do grêmio escolar de que ele participava. Não faço a menor idéia do que escrevi, mas me lembro (ou será que se trata de uma falsa memória?) de ter usado a palavra “repertório”. A palavra me ficou por eu tê-la usado sem saber-lhe o significado. É a memória da culpa por ter, quem sabe, cometido alguma impropriedade semântica. Depois veio um concurso de redação na escola e o tema era “petróleo”. Do que escrevi me ficaram apenas duas frases incompletas. Uma delas: “Apesar das escassas fontes petrolíferas aqui existentes [...]”. E a outra: “[...] o cobiçado ouro negro”. A amostra é mínima, mas dá bem a medida do diapasão em que o texto se fez. Montado nesses lugares-comuns, acabei ganhando o concurso. Um pouco mais à frente, uma redação mereceu leitura em voz alta para toda a turma. Jamais me esquecerei do professor de cursinho que cobriu de espanto e felicidade meus infatigados olhos adolescentes. O nome dele? José Luiz Amzalak. Na adolescência, período em que se é todo insegurança, um mínimo elogio pode ir ao encontro (e com muita força) de algo que secretamente se intui: acho que sirvo para isso. E um elogio distraído pode desenhar uma sina, um destino. Fui em frente. Aos 19 anos, virei bancário e virei leitor. Bancário nas horas pagas e leitor nas horas vagas. Anos e anos de leitura. Havia um mundo a descobrir. Nesse tempo de descoberta, havia pouco espaço para a escrita. Houve, sim, três tentativas de diário – a última delas terminou ao fim de três dias e é a única que deixou vestígios. Houve a fase dos amigos postais e das muitas cartas. Até para a escritora Nélida Piñon escrevi. Para meu espanto, ela respondeu – aventura que já contei aqui. Até que veio o desejo de iniciar uma interlocução por escrito com uma amiga muito querida. E a interação, que nasceu sob o signo da mais absoluta liberdade e descompromisso, foi crescendo, crescendo, crescendo… Cresceu tanto que chegou a hora em que tive de conter a avalanche de textos que se avolumava com a força de uma pororoca. A grafomania rendeu mil e um textos, parte dos quais veio desaguar aqui no blog. E parte do que desaguou no blog, foi ancorar nas páginas de um livro. Dele, o livro, digo apenas que é Quase Nada. Isso é tudo. Onde isso tudo vai dar? Em mais do mesmo, ou seja, em quase nada!!

© Nota de canapé: Canção do Djavan.

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