Eu apenas queria que você soubesse ©
Categoria: Música

Eu apenas queria que você soubesse…

Que eu não sei o que escrever hoje.

Que eu vou escrever qualquer coisa – como se não fosse assim quase todo dia.

Que eu fico pasmo com a extensão da minha lavoura de abobrinhas.

Que eu estou vergado de obrigações.

Que eu quero é não fazer nada.

Que eu preciso de uma casa no campo.

Que eu “vou-me embora pra Pasárgada”.

Que “eu quase que de nada não sei, mas desconfio de muita coisa”.

Que “eu tô estudando pra saber ignorar”.

Que a vida é uma comédia.

Que o buraco é mais embaixo.

Que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.

Que “não se encontra a manhã a não ser pelo caminho da noite”.

Que “nem tudo que conta, pode ser contado”.

Que “nem tudo que pode ser contado, conta”.

Que dias melhores virão.

Que “a alegria é a prova dos nove”.

Que o que não tem remédio, remediado está.

Que “o passado é uma roupa que não nos serve mais”.

Que “o sábado é uma ilusão” e é para essa doce ilusão que desejo ir sem demora.

Que eu desejo um fim de semana daqueles – para mim, para você, para todos.

© Nota de canapé: Canção do Gonzaguinha.

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Como viver
Categoria: Literatura

Sarah Bakewell escreveu uma excelente biografia de Montaigne, o grande ensaísta francês, estruturada na forma de uma pergunta (Como viver?) e vinte tentativas de resposta. Cada tentativa de resposta tem como guia os próprios ensaios de Montaigne. Reproduzo as tentativas de resposta sumarizadas no sumário (passe a redundância), não resistindo à tentação de uns comentários (entre parênteses).

1) Não se preocupe com a morte (“A morte não é feia / Nem bonita / A morte é onde a vida / Põe um ponto / Um ponto de partida” – Marina Colasanti);

2) Preste atenção (Eu tento. Diria que sou um distraído atento. Ficar muito atento ao que me interessa impõe uma distração enorme para tudo o mais);

3) Trate de nascer (Sujeitos à morte interina do sono, nascemos todos os dias);

4) Leia muita, esqueça tudo que lê e raciocine com lentidão (Isso eu pratico à perfeição);

5) Sobreviva ao amor e às perdas (Ligação direta com o budismo e a impermanência de tudo);

6) Recorra a pequenos truques (A minha cara);

7) Questione tudo (Sou um questionador silencioso. Questiono para dentro);

8 ) Tenha um compartimento privado nos fundos da loja (“Ninguém sabe quem eu sou quando rumino” – Machado);

9) Seja sociável: viva com os outros (Adoro gente, mas sou menos sociável do que desejaria);

10) Desperte do sono do hábito (Acredito que a leitura, uma profunda vivência de alteridade, tenha esse poder);

11) Viva com temperança (Em matéria de moderação, exagerado; em matéria de exagero, moderado. Perfeito, não?);

12) Preserve sua humanidade (“A raça humana é a ferida acesa / Uma beleza, uma podridão” – Gilberto Gil);

13) Faça algo que ninguém nunca tenha feito (Tento não fazer nada, algo completamente inédito);

14) Conheça o mundo (O mundo que mais me interessa conhecer é o que está refletido no espelho da palavra escrita);

15) Faça um bom trabalho, mas nem tão bom assim (Dispensa comentários);

16) Filosofe só por acaso (Penso, logo eis isto);

17) Reflita sobre tudo; não se arrependa de nada (Muito difícil viver sem algum tipo de arrependimento);

18) Abra mão do controle (Tendo freqüentado a escola de minha mãe, tenho muito a desaprender nesse quesito);

19) Seja comum e imperfeito (De tão imperfeito, chego a ser incomum na imperfeição);

20) Deixe a vida responder por si mesma (Viver é a única resposta).

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