Minifesto ©
Categoria: Literatura

Pra não perder o costume, uma reclamação necessária. Ou, para ser exato, um minifesto. E por ser um minifesto, bastam estas palavras de ordem: “Abaixo o código de barras”. Tenho pânico de quando vou a caixas eletrônicos e vejo alguém com boletos de cobrança nas mãos. E há quem os leve às dúzias. Mesmo quando o usuário é ágil, o processo é demorado. Alguém já viu algo mais disfuncional do que a posição dos leitores de código de barras? Aquilo parece feito com o nítido propósito de não ser ergonômico. Se fosse só a falta de ergonomia, vá lá!! A experiência que tenho (de olhar outros usuários) é que a leitura quase sempre não funciona. Aí é preciso digitar os duzentos algarismos do código de barras. E seria preciso mesmo um número tão grande de números? Uso caixas eletrônicos basicamente para saques. E como sempre estou observando os meus vizinhos de vida, cataloguei certo comportamento dos usuários de caixas eletrônicos: o do visível prazer de estar com as mãos repletas de boletos. Os tais postam-se à frente dos terminais com pernas ligeiramente abertas. Quando vejo alguém assim, é batata: está cheio de contas a pagar com código de barras. E não se pode esquecer dos que costumam conferir o extrato na frente do terminal. E porque sempre há gente à espera da liberação do terminal, e porque há quem não se toque, é preciso dar um toque no distraído. A vida em sociedade é barra. E o código tácito da preocupação com o tempo do outro tem pouca presença nas interações sociais.

© Nota de canapé: Poema do Leminski.

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Zen-vergonha ©
Categoria: Música

Uma amiga deu de me cobrar que tenho de fazer meditação. E vive me convidando para participar de algum retiro de meditação. Não digo nada. Tenho vontade, sim. Falta só juntar vontade e ação, que comigo quase nunca andam juntas. Leio bastante sobre budismo (e esqueço quase tudo), vou a palestras, mas não passo disso. Repetindo o que eu já disse, ler sobre o budismo é como carregar um barco na cabeça. A utilidade de um barco está em lançá-lo às águas. Totalmente verdade. Daí a praticar essa verdade vai um longo caminho. Sendo como sou, em matéria de budismo não passo de um zen-vergonha. E tá bom assim. O mais engraçado de tudo é que a amiga medita, estuda, se aprofunda, e mesmo com tudo isso não parece muito zen. Já eu que não medito, leio sem nenhum método, ainda assim ostento um jeito zen que faz de mim um budista nato. E minha cara zen-vergonha nem fica vermelha de proclamar isso. Quando admiti para a amiga esse meu lado zen-vergonha, ela, sem querer, acabou me dando um belo álibi. Ela disse ter ouvido de algum monge que era mais importante ser uma boa pessoa do que ser budista. Considero que sou uma boa pessoa, ou pelo menos com um bom caminho andado nessa direção. Estou, portanto, livre para continuar adoravelmente zen-vergonha. Ai, se a amiga me ouve!

© Nota de canapé: Parceria de Guinga e Aldir Blanc.

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