Agora é moda ©
Categoria: Música

Agora é moda eu ficar inventando moda.
Agora é moda ter perfil no Facebook.
Agora é moda tuitar o dia inteiro.
Agora é moda se enredar nas tais redes sociais.
Agora é moda a retribalização digital – a taba é a tela.
Agora é moda o ensimesmamento tribal – a tela é a cela.
Agora é moda fazer tudo pela tela: comprar, conversar, namorar, até transar.
Agora é moda, nos chats, escrever sem pontuação alguma, tal como se fala.
Agora é moda siliconar o corpo inteiro.
Agora é moda o narcisismo desenfreado.
Agora é moda o individualismo de massa.
Agora é moda o vale-tudo para aparecer.
Agora é moda a dispersão da idade mídia.
Agora é moda a oniprepotência do Deus Comunicação.
Agora é moda achar que no Google, tal como se fosse um oráculo, estão todas as respostas.
“Agora é moda acontecer uma tragédia”.
“Agora é moda tentar salvar a natureza”.
Agora é moda querer se jogar “no colo da mãe natureza”.
Agora é moda o sertanejo universitário – que diabo será isso?
Agora é moda postar bizarrices no YouTube.
Agora é moda as bizarrices do YouTube bombarem.
Agora é moda baixar zilhões de vídeos para não ver.
Agora é moda dizer afrescalhadamente “Que tuda!”.
Agora é moda ficar decorando as mil e uma promoções das operadoras de telefonia móvel.
Agora é moda ficar controlando milhas pra viajar de graça.
Agora é moda ficar contabilizando pontos nos programas de relacionamento das empresas.
Agora é moda homens, em passeio pelos shoppings, carregarem bolsas de esposas e namoradas.
Agora é moda os pais saírem de casa por não agüentarem mais os filhos que não querem sair da casa dos pais.
Agora é moda o namorado compartilhar o quarto da namorada e vice-versa.
Agora nada é moda mais – é só tendência.
Cansei!

© Nota de canapé: Um divertido sucesso da nossa Santa Rita de Sampa, a querida Rita Lee.

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Para ser escritor ©
Categoria: Literatura

Ao contrário do que pensa o Álter (ver post anterior), de mim são sairá nenhum impropério. Em vez, apareço para reforçar tudo o que foi dito, mesmo que o intuito do dito tenha sido apenas o de me espezinhar e não de dizer verdades.

Sei que não nasci para ser escritor. Sei que os meus escritos de circunstância estão a anos-luz de qualquer estatuto artístico. Sei que escrever é sangrar, abundantemente (Caio Fernando Abreu). Sei que escrever é uma danação. Sei que gosto de ficar no âmbito das amenidades. Sei que gosto de receber – mas não somente – afagos. Sei que não estou preparado para dar a cara a tapa. Sei que o que escrevo não interessa a ninguém além da meia dúzia de amigos que me atura. Sei que é a vaidade inconfessável que comanda o gosto de me deixar escrever desatento. Sei que não vou chegar a lugar nenhum com o meu cortejo de ninharias e me contento de chegar a alguns corações amigos. Sei que meu destino é faiscar minha desimportância para ninguém. Sei que não mereço (e nem preciso) nada além deste puxadinho virtual escondido num recanto do ciberespaço. Sei que não posso querer mais nada. Sei que não consigo me calar, mesmo sem ter nada a dizer.

© Nota de canapé: Livro de Charles Kiefer, escritor gaúcho.

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